Pesquisa Acadêmica

Espécies invasoras causam prejuízos de mais de US$ 300 bi; aponta estudo

Espécies não nativas — aquelas que não são originárias do ecossistema de um determinado país —  causaram, em áreas urbanas, um prejuízo econômico global estimado em 326,7 bilhões de dólares (aproximadamente 1,6 trilhão de reais), entre 1965 e 2021. Os dados fazem parte de um estudo conduzido pelo pesquisador Gustavo Heringer, do Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aplicada da Universidade Federal de Lavras (UFLA), em coautoria com 19 pesquisadores de países como Itália, Alemanha, Dinamarca e Rússia.

Das 61 espécies invasoras catalogadas e agrupadas taxonomicamente, o grupo Insecta, que inclui diferentes espécies de insetos, foi o responsável pela maior parte dos custos (324,4 bilhões de dólares), e o motivador de aproximadamente 99,3% das perdas econômicas. Na sequência, apareceram o grupo Aves (1,4 bilhão de doláres), que reúne diferentes espécies de aves, e o grupo Magnoliopsida (494 milhões de dólares), que agrega plantas produtoras de flores e de sementes.

Ao considerar as espécies, em vez de seus grupos taxonômicos, o estudo identificou as mais dispendiosas: o cupim subterrâneo (Coptotermes formosanus), o besouro-verde (Agrilus planipennis), a formiga-de-fogo-vermelha (Solenopsis invicta), a mosca-do-mediterrâneo (Ceratite capitata) e o pombo-doméstico (Columba livia). Essas cinco representam 80% do total dos custos gerados por todas as espécies invasoras.

O estudo destaca que, apesar de os gastos totalizarem 326,7 bilhões de dólares, o que representa uma média anual de 5,7 bilhões, esse valor provavelmente é ainda mais elevado.

“Nós encontramos custos reportados para áreas urbanas de 24 países. Entretanto, 73 países possuem ocorrência de espécies invasoras que causam custos em áreas urbanas, mas não possuem esses gastos reportados em literatura. É provável que esses países já estejam gastando com espécies invasoras em áreas urbanas (seja para prevenção ou para reduzir os danos causados), mas ainda não possuam esses custos estimados e/ou publicados”, afirma o pesquisador da UFLA.

Os dados analisados mostraram que a maior parte dos gastos foi utilizada não para prevenir essas invasões, mas para lidar com os impactos gerados por elas. Exemplos disso são os mosquitos invasores Aedes aegypti e Aedes albopictus, originários da África e Ásia, respectivamente, que têm transmitido, nas Américas, doenças como dengue, chikungunya, zika e febre amarela. Os custos reportados são para tratar as pessoas infectadas por essas doenças.

Plantas

O trabalho também abordou o caso das plantas invasoras, que produzem grandes quantidades de pólen alergênico, como a erva-comum (Ambrosia artemisiifolia) e o arbusto (Baccharis halimifolia). Ao terem suas células reprodutoras transportadas pelo ar de grandes metrópoles, elas causam danos a monumentos públicos e afetam pessoas alérgicas.

Base de dados

Para realizar o estudo, os pesquisadores utilizaram o banco de dados InvaCost, que reúne informações sobre invasões biológicas em escala mundial. Os pesquisadores avaliaram como esses gastos ocorreram e quais setores da sociedade eles mais impactaram.

A base de dados InvaCost é composta por mais de 13 mil registros originados de mais de 100 fontes distintas e reúne informações provenientes de livros, literatura científica e relatórios oficiais sobre invasões biológicas. Os custos relatados estão organizados em 66 colunas que descrevem detalhadamente cada entrada, incluindo informações como ano do estudo, país em questão, setor afetado e tipo de impacto causado pela espécie invasora.

“Nós reavaliamos todos os estudos presentes nessa base de dados, a fim de categorizar se o custo ocorreu ou não em área urbana. Esse processo é muito lento e envolve a participação de vários pesquisadores, uma vez que muitos estudos não estão publicados em inglês”, afirma Gustavo.

A pesquisa conclui que, apesar das áreas urbanas cobrirem uma porção relativamente pequena de toda a área terrestre, as espécies não nativas causam um impacto econômico significativo. Esse impacto tem crescido ao longo dos anos, atingindo seu pico entre 2005 e 2014. A subnotificação desses custos em diversos países e os vieses dos dados ressaltam a necessidade de uma abordagem mais colaborativa entre a comunidade científica, os governos e os cidadãos, visando aprimorar a precisão das análises futuras e gerenciar de forma mais eficaz esse desafio global.

Sobre os pesquisadores

O estudo contou com a participação direta de 19 pesquisadores de diferentes países: dois brasileiros, dois tchecos, quatro franceses, e 11 de outras nacionalidades. Do Brasil, além do pesquisador pós-doutor da UFLA (que também possui vínculo com a Universidade de Nürtingen-Geislingen, na Alemanha), também houve a participação do pesquisador José Ricardo Pires Adelino, da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Da França, contribuíram Franck Courchamp, David Renault, David Roiz e Kathrin Holenstein. Além desses, outros pesquisadores que participaram foram: Ana Novoa e Desika Moodley, ambas da República Tcheca; Alok Bang, da Índia; César Capinha, de Portugal; Marion Cordonnier, da Alemanha; Natalia I. Kirichenko, da Rússia; Romina D. Fernandez, da Argentina; Romina D. Dimarco, dos Estados Unidos; Melina Kourantidou, da Dinamarca; Elena Tricarico, da Itália; Yuya Watari, do Japão; Thomas W. Bodey, do Reino Unido; e Bernd Lenzner, da Áustria.

A pesquisa foi publicada em 2024 na revista Science of The Total Environment, com o título ‘Economic costs of invasive non-native species in urban areas: An underexplored financial drain’.

Foto: Divulgação

Arte: UFLA

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