Estudo baseado nos dados do Censo Escolar aponta que 59% dos estudantes nascidos entre 2000 e 2005 não concluíram o ensino médio na idade certa. No caso do ensino fundamental, o índice cai para 48%. A pesquisa analisou a trajetória escolar de mais de 16 milhões de estudantes ao longo do ensino fundamental e médio, no período de 2007 a 2019. Essas trajetórias foram classificadas em quatro categorias: regular (idade certa); de pouca irregularidade (1 a 2 anos de defasagem); de muita irregularidade (mais de três anos de defasagem); e interrompida (evadidos que não retornam no período de acompanhamento).
O estudo foi desenvolvido por Maria Teresa Gonzaga Alves, Diretora de Estudos Educacionais do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep); Clarissa Guimarães Rodrigues, pesquisadora do Instituto; Francisco Soares, especialista em educação e ex-presidente da Autarquia; Izabel Fonseca, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); e Esmeralda Macana, da Fundação Itaú Social.
“É um trabalho que mostra a enorme importância do Censo Escolar como retrato da educação brasileira. Não há equivalente ao censo no mundo. Todas as crianças possuem um registro na escola porque a legislação brasileira determina que todas ingressem no sistema. Isso é feito anualmente. Então, nos traz inúmeras possibilidades de acompanhar o que acontece com essa população”, disse Maria Teresa Gonzaga Alves.
Aspectos sociais
Ao analisar os fatores sociodemográficos relacionados aos estudantes, o estudo aponta que a trajetória irregular é mais frequente entre determinados perfis. São eles: estudantes de baixo nível socioeconômico; com deficiência; indígenas; e do sexo masculino. Estudantes das regiões norte e nordeste do país também possuem um índice maior de repetência ou abandono escolar.
“Quando analisamos as diferenças entre grupos sociodemográficos, verificamos que a população declarada preta no Censo Escolar alcançou apenas 42% de concluintes do ensino fundamental na idade adequada, enquanto a população branca atingiu 62%”, pontuou Clarissa Guimarães Rodrigues.
De acordo com Clarissa, essa desigualdade também foi observada entre os estudantes de baixo nível socioeconômico (39%) e alto nível socioeconômico (69%). “Embora todas as crianças consigam acessar o sistema de ensino em algum momento de suas vidas, muitas, especialmente aquelas em condições de maior vulnerabilidade, interrompem seus estudos de forma precoce e não têm o seu direito à educação concretizado”, concluiu.
Veja também:
Nove milhões de estudantes não completaram o ensino médio
Uma em cada quatro mulheres de 15 a 29 anos não estudava e nem estava ocupada em 2023
Proporção de jovens de 6 a 14 anos no ensino fundamental cai pelo segundo ano
Foto: Agência Brasil