Um estudo recente da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) revelou que o alto custo de alimentos saudáveis, como frutas, verduras e legumes, dificulta a adoção de uma dieta equilibrada pela população brasileira, especialmente entre as famílias de baixa renda. A pesquisa, que analisou dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017/18 do IBGE, também apontou que fatores como as mudanças climáticas podem impactar ainda mais os preços desses alimentos.
“A seca ou até chuva em excesso causam problemas na produção, afetam a distribuição e os alimentos não chegam ao consumidor, ou chegam com preços muito mais alto”, afirma a pesquisadora Thaís Cristina Marquezine Caldeira, autora da tese.
Disparidades regionais e socioeconômicas
O estudo identificou disparidades significativas no custo da dieta entre diferentes regiões do país e níveis de renda. O Nordeste apresentou o menor custo médio (R$0,58/100 kcal), enquanto o Sudeste registrou o maior (R$0,71/100 kcal). Além disso, o custo da dieta em áreas rurais (R$0,53/100 kcal) foi inferior ao das áreas urbanas (R$0,69/100 kcal).
Famílias de baixa renda, especialmente em áreas rurais e regiões menos desenvolvidas, enfrentam maiores dificuldades para adotar dietas saudáveis, como as recomendadas pela Comissão EAT-Lancet. O aumento do custo dos alimentos frescos e minimamente processados, aliado à crescente dependência de produtos ultraprocessados, agrava esse cenário.
Impacto ambiental e saúde pública
A pesquisa também destaca o impacto ambiental da produção de alimentos, que responde por até 35% das emissões globais de gases de efeito estufa. O aumento do consumo de ultraprocessados e proteínas animais eleva ainda mais esse impacto, especialmente em países de baixa e média renda.
“Muitas vezes, esses alimentos dependem de embalagens plásticas e outros materiais que demandam energia para produção e descarte. O transporte desses produtos, muitas vezes por longas distâncias, também contribui para as emissões”, explica Thaís Caldeira.
O consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, ricos em calorias vazias e pobres em nutrientes, contribui para problemas de saúde como obesidade, colesterol alto e doenças crônicas não transmissíveis.
Políticas públicas para um futuro sustentável
Diante desse cenário, a pesquisadora defende a implementação de políticas públicas que incentivem a produção e o consumo de alimentos saudáveis e sustentáveis. Medidas como a rotulagem de advertência em alimentos processados, incentivos fiscais para alimentos saudáveis e taxação de produtos não saudáveis são apontadas como alternativas para promover uma dieta mais equilibrada e acessível para a população brasileira.
“Acho que parte principalmente do poder público, da política, fazer uma mudança nesse cenário do preço dos alimentos para que todos possam ter acesso a eles. Hoje é muito difícil consumir frutas e hortaliças, que pesam muito no bolso da população”, conclui Thaís Caldeira.
Foto: Faculdade de Medicina UFMG