Um novo estudo sobre os hábitos de leitura no Brasil, divulgado pelo Instituto Pró-Livro, nessa terça-feira (19), traz dados preocupantes: o país perdeu 6,7 milhões de leitores nos últimos quatro anos. Pela primeira vez, a maioria da população brasileira (53%) não leu nenhum livro nos últimos três meses, seja ele físico ou digital.
A redução no número de leitores foi observada em todas as faixas etárias, classes sociais e regiões do país. Apenas entre crianças de 11 a 13 anos e idosos com 70 anos ou mais houve uma leve estabilidade. No entanto, a pesquisa destaca que a leitura de livros didáticos influencia significativamente os dados da faixa etária mais jovem.
O estudo também revelou uma queda na motivação pela leitura à medida que as pessoas envelhecem. Enquanto 38% das crianças de 5 a 10 anos leem por prazer, esse percentual cai para 17% entre os adultos acima de 40 anos. Durante a adolescência e até os 24 anos, esse índice varia de 31% a 34%.
Nas faixas etárias seguintes foi identificada a redução na menção a essa motivação: 21% entre 25 e 29 anos, 19% para quem está na faixa dos 30, e segue estável em 17% para todas as faixas etárias acima de 40 anos.
Salas de aula deixam de ser espaços de leitura
Outro dado preocupante é a redução da leitura em sala de aula. A pesquisa mostrou que cada vez menos estudantes relatam ler livros na escola. Quando perguntados sobre os lugares onde costumam ler livros, a grande maioria cita a própria casa (85%). “Mas é preocupante notar como as salas de aula estão deixando de ser um lugar de leitura, conforme a série histórica demonstra”, comenta a coordenadora da pesquisa, Zoara Failla.
Em 2007, 35% citaram esse espaço escolar. Em 2011, foram 33%. Na edição seguinte, de 2015, as menções apareceram em 25% dos entrevistados. Em 2019, foram 23%. E agora foi de 19%, o menor índice já registrado.
Santa Catarina lidera em número de leitores
De acordo com os pesquisadores, o estudo de 2024 permite a leitura dos resultados por unidades da federação e possibilita comparar os resultados de 2024 com os de 2019 e do restante da série histórica da pesquisa, por região.
Santa Catarina, com 64% de leitores na população, apareceu como o estado com maior proporção de leitores. Paraná e Ceará aparecem em seguida, com 54%, números que os colocam relativamente acima do percentual de leitores no Brasil (47%).
A Região Sul é a única das cinco do país onde ainda há uma maioria de leitores na população: atualmente, 53% dos moradores desses três estados leram total ou parcialmente pelo menos um livro nos três meses que antecederam a pesquisa. Contudo, o dado é cinco pontos percentuais abaixo do verificado na edição anterior da pesquisa, quando a mesma região registrou 58% de leitores.
O que significa essa queda na leitura?
A pesquisa do Instituto Pró-Livro serve como um alerta para a necessidade de políticas públicas mais eficazes para incentivar a leitura no Brasil. Especialistas defendem a importância de investir em bibliotecas, escolas e programas culturais que promovam o acesso aos livros e o hábito de ler.
A redução no número de leitores pode ter diversas implicações para a sociedade. A leitura é fundamental para o desenvolvimento cognitivo, crítico e cultural das pessoas. Além disso, ela está associada a um maior nível de empatia, conhecimento e capacidade de análise.
A pesquisa ouviu 5.504 pessoas em 208 municípios. Realizado desde 2007, o levantamento deste ano trouxe novos indicadores. Pela primeira vez foram mensurados o número de livros infantis nas residências e os hábitos de leitura dos pais sob a ótica das crianças entre 5 e 13 anos.
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Foto: Cultura/RJ