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Colapso da corrente do Atlântico ameaça Amazônia, revela estudo da USP

Um novo estudo, publicado na revista Nature Geoscience, aponta para uma ameaça ainda mais grave à Floresta Amazônica: o possível colapso da Circulação Meridional do Atlântico (Amoc). Essa corrente oceânica, fundamental para a regulação do clima global, pode sofrer um enfraquecimento drástico devido às mudanças climáticas, com consequências devastadoras para a Amazônia e para o planeta como um todo.

A pesquisa, liderada por cientistas da Universidade de São Paulo (USP), revela que o enfraquecimento da Amoc provocaria uma redistribuição das chuvas na Amazônia, com redução das precipitações no norte e aumento no sul. No entanto, a região sul já é altamente desmatada, o que impede a recuperação da floresta. Por outro lado, o norte, que abriga as áreas mais preservadas, ficaria mais seco, tornando-se vulnerável à desertificação.

Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores analisaram sedimentos marinhos coletados na foz do Rio Amazonas. Esses sedimentos guardam registros do pólen e de microcarvão da floresta, permitindo reconstruir as mudanças na vegetação amazônica ao longo de milhares de anos. Os resultados indicam que, em períodos passados em que a Amoc colapsou, a Amazônia experimentou um padrão de chuvas similar ao projetado para o futuro, com consequências significativas para a cobertura vegetal.

“Pela primeira vez sabemos qual é a resposta da floresta a um enfraquecimento marcante da Amoc. Isso é muito importante”, diz o professor Cristiano Chiessi, especialista em Paleoclimatologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, que é um dos autores do trabalho. O estudo foi conduzido pelo geólogo Thomas Akabane, como parte da sua pesquisa de doutorado no Instituto de Geociências (IGc) da USP, sob orientação de Chiessi e do professor Paulo Eduardo de Oliveira, também do IGc.

Um futuro incerto

As simulações climáticas realizadas pelos pesquisadores sugerem que, se o enfraquecimento da Amoc se confirmar, a Amazônia poderá atingir um ponto de não retorno, transformando-se em um ecossistema completamente diferente do que conhecemos hoje. Essa transformação teria impactos globais, afetando o clima, a biodiversidade e a disponibilidade de água doce em diversas regiões do planeta.

Ninguém sabe dizer ao certo quando essa quebra da Amoc poderá ocorrer, mas estudos recentes indicam que o sistema já está perdendo força e que há um risco real de ele colapsar ainda neste século, em função do derretimento da capa de gelo da Groenlândia e de outros fatores associados ao aquecimento global. Isso significa que o transporte de massas de água entre o norte e o sul do Atlântico deixaria de acontecer, ou passaria a ocorrer de forma muito mais lenta do que ocorre hoje. Fazendo uma analogia, é como se você desligasse ou diminuísse a velocidade de um sistema de esteiras que transportam bagagens no aeroporto, por exemplo — sendo que, neste caso, as esteiras são correntes oceânicas e as malas são energia térmica (calor).

Segundo os pesquisadores, é imprescindível que estudos futuros sobre esse tema considerem os “impactos combinados de potenciais cenários futuros de enfraquecimento da Amoc sob condições reais de degradação florestal antropogênica e aquecimento global”.

O que podemos fazer?

Os autores do estudo enfatizam a urgência de ações para mitigar as mudanças climáticas e reduzir o desmatamento na Amazônia. A preservação da floresta é fundamental para garantir a estabilidade do clima global e evitar um colapso irreversível do maior bioma do planeta.

Imagem: USP/Divulgação

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