Em encontro realizado nessa quarta-feira (30), os ministros da Educação dos países do G20 destacaram a importância de investir em educação e valorizar os profissionais da área. O evento, que encerra as atividades do Grupo de Trabalho (GT) de Educação do G20 na presidência brasileira, fez parte da Semana Ceará: Centro Global da Educação.
Durante o encontro, os ministros revisaram os resultados do trabalho realizado pelo GT ao longo do ano e indicaram os próximos passos para 2025, quando a África do Sul assumirá a presidência do grupo. Entre os temas abordados, estiveram a valorização dos professores, o uso de conteúdo digital em sala de aula e o fortalecimento do vínculo entre escolas e comunidades.
O ministro da Educação, Camilo Santana, ressaltou a necessidade de uma liderança global para investir mais em educação. “O G20 tem a capacidade de liderar grandes reformas e, para o Brasil, a educação é o ponto de partida para qualquer transformação social”, afirmou.
O relatório final do GT, apresentado durante o encontro, destaca a importância do compartilhamento de boas práticas entre os países-membros e a necessidade de um pacto social pela educação.
A reunião contou com a participação de 35 delegações, incluindo ministros, vice-ministros e representantes de organizações internacionais. Além dos ministros, estudantes, professores e outros representantes de políticas públicas também estiveram presentes para compartilhar suas experiências e discutir as melhores práticas em educação.
Relatório
Valorização profissional – No relatório, o grupo enfatiza a importância de uma educação universal inclusiva, equitativa e qualitativa para construir um mundo justo e um planeta sustentável, assim como o papel essencial dos profissionais da educação para alcançar esse objetivo. Iniciativas que promovam recrutamento, retenção, melhores condições de trabalho e desenvolvimento profissional contínuo, incluindo oportunidades de mobilidade e intercâmbio, são vitais para enfrentar a preocupante escassez de educadores observada em muitos países do G20 e além. Respeitando as diversas estruturas dos sistemas educacionais, o grupo convoca todos os envolvidos a continuarem trabalhando para valorizar e garantir a inclusão na profissão docente.
Conteúdo digital – O GT valoriza a variedade de plataformas e conteúdos digitais centrados nos alunos e multidisciplinares sobre educação para o desenvolvimento sustentável (EDS) já existentes nos países do G20. Educadores e alunos precisam estar envolvidos na criação de recursos digitais, que podem complementar o ensino presencial. A experiência do usuário tornou-se um elemento-chave para medir o sucesso nessa área, incluindo a extensão em que o conteúdo de qualidade é acessível e adaptável a diferentes contextos de conectividade. O grupo também observa que a alfabetização digital e midiática se torna essencial para os sistemas educacionais, ao lado do pensamento crítico, do aprendizado socioemocional, da cidadania digital e de outros temas importantes. Além disso, o grupo enfatiza que as aplicações de inteligência artificial na educação devem se basear em conteúdo educacional de qualidade garantida. Para isso, as soluções digitais precisam ser desenvolvidas com forte ênfase em padrões éticos, diversidade, equidade e inclusão, reconhecendo a importância de superar a divisão digital.
Escola e comunidade – O grupo destaca o potencial das práticas de engajamento entre escola e comunidade como catalisador de uma educação universal inclusiva, equitativa e qualitativa, além de um desenvolvimento sustentável. Fortalecer a conexão entre escolas e comunidades promove um aprendizado prático e significativo, impactando positivamente os resultados educacionais. A exposição virtual organizada este ano permitiu ao grupo identificar uma gama de práticas inspiradoras em todo o mundo. Os exemplos apresentados podem servir de inspiração para países e instituições sobre como escolas e comunidades são capazes de se envolver mutuamente, respeitando as diversas necessidades e contextos.
Relação entre escola e comunidade – Ainda nesta quarta-feira (30), representantes da África do Sul, da Austrália, da Espanha, da Indonésia e do Reino Unido puderam apresentar, na reunião Ministerial de Educação do G20, os projetos realizados em seus países para engajar a escola e a comunidade:
- África do Sul: O estudante Thando Ntintili, da Toli Senior Secondary School, localizada em uma vila rural do país, apresentou um projeto da escola voltado para a melhoria da qualidade da água de um rio local, que estava contaminada por uso humano e animal. Segundo o estudante, foi construído um filtro de água, restaurando a dignidade da comunidade e permitindo que cerca de 500 pessoas tivessem acesso a água potável. A escola foi reconhecida como campeã nacional por essa iniciativa.
- Austrália: Representando a Austrália, Jessia Louise Davis apresentou uma iniciativa de inclusão de populações nativas nas escolas australianas, sendo ela mesma descendente dessas populações. Seu trabalho tem sido fundamental para integrar as comunidades indígenas nos currículos escolares, promovendo uma educação inclusiva e que respeita a diversidade cultural do país.
- Espanha: A professora Blanca Maria Ruiz, do Colégio Virgen del Mar, localizado no Sul da Espanha, apresentou o projeto “Learning Community”. A iniciativa envolve todos os setores da comunidade educacional no processo de tomada de decisão. Segundo a professora, essa abordagem transformou a escola, que antes era evitada, em uma das mais procuradas por famílias, alunos e professores. Para Ruiz, a experiência demonstra como a democracia na educação pode promover equidade, colaboração e revitalização comunitária.
- Indonésia: Arby Mamangsa, diretor da Escola Secundária Nusantara, localizada em Sorong, Papua Ocidental, apresentou o projeto realizado na escola de adotar uma abordagem educacional focada em projetos comunitários. Segundo o diretor, um dos projetos abordou a escassez de água potável, levando os alunos a desenvolverem soluções inovadoras para a comunidade. Isso conectou a educação a questões reais e urgentes da região.
- Reino Unido: Já a britânica Juanita Shepard falou do projeto que desenvolveu e que implementou iniciativas educacionais voltadas para a ação climática e a conservação da natureza no Reino Unido. Antes de sua atuação no Departamento de Educação, Shepard lecionou geografia em escolas secundárias e em uma faculdade de ensino médio. Ela é uma voluntária ativa, coordenadora do Duke of Edinburgh Award e secretária da associação local de Geografia, além de apoiar iniciativas ambientais em uma escola primária local.
A participação desses cinco representantes teve como objetivo enriquecer os debates ministeriais, apresentando questões reais e práticas que afetam diretamente o cotidiano escolar. A escolha dos participantes levou em conta o engajamento das práticas apresentadas, a representatividade regional e a diversidade, assegurando que as discussões no G20 reflitam amplamente as experiências educacionais e inclusivas.
A ideia é que essa troca de experiências contribua significativamente para que os ministros possam focar políticas educacionais que façam a diferença onde a educação acontece de fato, nas escolas.
Próximos passos
Com a conclusão das atividades do GT na presidência brasileira, os países-membros do G20 se preparam para dar continuidade às discussões sobre educação em 2025, sob a liderança da África do Sul. As expectativas são de que o grupo continue trabalhando para fortalecer a educação em todo o mundo e contribuir para um futuro mais justo e sustentável.
Sobre o G20
O G20 é um fórum internacional que reúne os 19 países com as maiores economias do mundo, além da União Europeia. O grupo discute temas de relevância global, como crescimento econômico, desenvolvimento sustentável e cooperação internacional.
Sobre a Semana Ceará: Centro Global da Educação
A Semana Ceará: Centro Global da Educação é um evento que reúne educadores, pesquisadores e representantes de governos para discutir os desafios e as oportunidades da educação no século XXI. O evento, que acontece em Fortaleza até o dia 2 de novembro, tem como objetivo fortalecer a cooperação internacional em educação e promover o desenvolvimento de políticas públicas mais eficazes.
Foto: Ângelo Miguel/MEC