A Universidade Federal de Viçosa (UFV) dá um passo revolucionário para a pesquisa brasileira com a construção do primeiro banco de germoplasma de Cannabis Sativa L. em uma instituição pública. A iniciativa, inédita no país, permitirá o estudo e a conservação de diversas variedades da planta, abrindo caminho para o desenvolvimento de medicamentos, fibras, biocombustíveis e outros produtos inovadores.
O projeto, liderado pelo professor Derly José Henriques da Silva, do Departamento de Agronomia da UFV, e em parceria com a empresa Cannabreed Technology Brasil Ltda., enfrentou diversos desafios legais devido ao status controverso da Cannabis no Brasil. Após quatro anos de negociações com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a construção do banco foi finalmente autorizada por meio de um habeas corpus.
A escolha da UFV para sediar esse importante projeto se deve à sua expertise em genética vegetal e à existência de um banco de germoplasma de hortaliças, coordenado pelo professor Derly há mais de duas décadas. A nova estrutura, que será instalada em uma área de quase um hectare no Vale da Agronomia, contará com equipamentos de segurança e monitoramento para garantir a proteção das plantas e das pesquisas.
“O banco de germoplasma de cannabis representa um passo fundamental para o desenvolvimento de uma agricultura mais sustentável e diversificada no Brasil”, afirma o professor Derly. “Com essa iniciativa, poderemos explorar todo o potencial da planta, desde a produção de medicamentos até a criação de novos materiais biodegradáveis.”
A criação do banco de germoplasma de cannabis é vista como uma oportunidade única para o Brasil se posicionar na vanguarda da pesquisa científica sobre essa planta milenar. A expectativa é que os resultados obtidos nas pesquisas contribuam para o desenvolvimento de uma legislação mais clara e abrangente sobre a Cannabis no país, permitindo a exploração segura e responsável de seu potencial.
Desafios e perspectivas
Apesar desse importante avanço, o cultivo da Cannabis ainda enfrenta desafios regulatórios no Brasil. A planta, por ser capaz de gerar efeitos psicoativos, é classificada como droga e seu cultivo é proibido por lei. No entanto, a crescente demanda por produtos à base de cannabis, tanto para uso medicinal quanto industrial, tem pressionado por uma mudança na legislação.
O banco de germoplasma da UFV representa um importante passo nessa direção, ao demonstrar o potencial da Cannabis como uma commodity agrícola e o interesse da comunidade científica em explorar suas diversas aplicações. A expectativa é que essa iniciativa contribua para a construção de um debate mais informado e embasado sobre a legalização da Cannabis no Brasil.
O potencial da cannabis
Em um cenário global que busca soluções para os desafios ambientais e da saúde, a cannabis surge como uma planta com grande potencial. Segundo o professor Derly Henriques, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), a Cannabis apresenta características que a tornam uma cultura promissora para a agricultura sustentável e a produção de medicamentos.
Com raízes profundas, a planta contribui para a proteção do solo e pode ser cultivada em áreas degradadas. Sua capacidade de sequestrar carbono através da produção de biomassa representa um importante aliado na luta contra o efeito estufa. Além disso, o ciclo de cultivo relativamente curto, com floração em cerca de cinco meses, permite o consórcio com outras culturas, otimizando a utilização da terra.
O cânhamo, fibra extraída do caule e das folhas da Cannabis, possui diversas aplicações industriais, desde a produção de roupas até a fabricação de materiais de construção. As sementes, ricas em proteínas e óleos, apresentam um grande potencial para a indústria alimentícia e farmacêutica.
No entanto, é nas flores da Cannabis que se concentram os canabinoides, substâncias com propriedades medicinais que vêm sendo estudadas em todo o mundo. “O uso dos canabinoides na saúde humana é uma área em constante expansão”, afirma o professor Henriques. “Medicamentos à base de canabinoides já estão disponíveis no mercado, mas seus altos custos limitam o acesso de muitos pacientes.”
Diante desse cenário, a UFV tem se dedicado a pesquisas para adaptar o cultivo da Cannabis às condições brasileiras, visando a produção segura e sustentável. “Nosso objetivo é gerar conhecimento sobre as demandas agronômicas da planta em nosso país, para que possamos desenvolver tecnologias que otimizem sua produção e garantam a qualidade dos produtos derivados”, explica o professor.
A pesquisa com a Cannabis no Brasil representa uma oportunidade para o desenvolvimento de uma agricultura mais sustentável e para o acesso a medicamentos de alta qualidade para a população. Além disso, a cultura da Cannabis pode gerar empregos e renda para as comunidades rurais, contribuindo para o desenvolvimento econômico do país.
Sobre o banco de germoplasma
Um banco de germoplasma é uma coleção de sementes, plantas ou outros materiais genéticos de uma determinada espécie ou grupo de espécies. Esses bancos são essenciais para a conservação da biodiversidade e para o desenvolvimento de novas variedades de plantas com características desejáveis, como maior resistência a doenças, maior produtividade ou melhor qualidade nutricional.
O banco de germoplasma de cannabis da UFV terá como objetivo coletar e conservar diversas variedades da planta, provenientes de diferentes regiões do mundo. As sementes serão armazenadas em condições controladas para garantir sua viabilidade a longo prazo. Além da conservação, o banco também será utilizado para pesquisas científicas, visando o desenvolvimento de novas variedades de cannabis com características específicas.
Foto: UFV/Divulgação