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Professores e estudantes estão insatisfeitos com o novo ensino médio; aponta pesquisa da Unesco

A Pesquisa Novo Ensino Médio, realizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), apresenta dados sobre a implementação do Novo Ensino Médio (NEM) nas escolas públicas brasileiras. O levantamento foi feito em todas as regiões do país.

Dos três agentes entrevistados (gestores, docentes e studantes), os mais insatisfeitos são os docentes. De acordo com a pesquisa, 76% declararam insatisfação com as mudanças decorrentes do Novo Ensino Médio. Entre as regiões brasileiras, na Região Centro-Oeste 85% de docentes se dizem insatisfeitos; na Região Norte, 84%; na Região Nordeste, 81%; na Região Sudeste, 74%; e na Região Sul, 69%.

Estudantes

A maioria dos estudantes (55%) também afirmou estar insatisfeita com as mudanças decorrentes do Novo Ensino Médio. O Centro-Oeste foi a região onde se concentra o maior percentual de estudantes insatisfeitos (65%).

Quando perguntados se acreditam que o NEM contribui para o fortalecimento do protagonismo dos jovens, 50% afirmaram que sim e 46% disseram que não, sendo que a Região Centro Oeste teve o maior percentual de respostas negativas (54%).

Quando questionados se as mudanças no NEM contribuíam para o fortalecimento do protagonismo juvenil no que se refere às propostas a seguir, a grande maioria dos estudantes afirmou que sim. As referidas propostas são:

a) possibilidade de escolha de diferentes aprofundamentos, Trilhas ou Rotas de Aprendizagem – 87% dos estudantes afirmaram que sim, sendo que o menor percentual de aprovação foi encontrado na Região Centro Oeste (84%), e o maior, na Região Sul (91%);

b) a possibilidade de escolha de disciplinas eletivas ou optativas – 84% dos estudantes afirmaram que sim, sendo também na Região Centro Oeste o maior percentual de aprovação (92%), e o menor, na Região Sudeste (80% de aprovação);

c) a oferta de aulas e atividades voltadas para o desenvolvimento do Projeto de Vida – teve 76% de respostas afirmativas, com o maior percentual na Região Norte (85%);

d) a possibilidade de integração com a formação técnica e profissional – 85% dos estudantes a avaliaram de forma positiva, sendo o maior percentual de respostas positivas concentrado na Região Norte (90%).

A maioria dos estudantes opinou como ruim ou péssimo (63%) somente em relação ao aumento da carga horária. Contudo, na Região Norte, mais da metade dos estudantes consideraram o aumento da carga horária como ótima ou boa (54%).

A pesquisa mostra ainda que 55% dos estudantes afirmaram que foram mal-informados ou muito mal informados; 50% dos estudantes afirmaram que o NEM contribui para o fortalecimento do protagonismo juvenil, e 46% disseram que não contribui.

Gestores

Do total de gestores entrevistados, 89% estavam em turmas de 1ª série na mesma escola que implementou o Novo Ensino Médio em 2022; mais da metade (54%) é do sexo feminino e teve acesso ao cargo por eleição com a participação da comunidade escolar (27%); por processo seletivo qualificado e escolha, ou por nomeação da gestão (24%). Chama atenção o fato de que 26% assumiram o cargo exclusivamente por indicação ou escolha da gestão, 11% por processo eleitoral com a participação da comunidade escolar, e apenas 3% por concurso público.

A pesquisa

De acordo com a Unesco, o estudo teve o objetivo de coletar dados e analisar a percepção de estudantes, docentes e gestores escolares a respeito do primeiro ano de implementação do atual modelo dessa etapa de ensino, que aconteceu nas turmas do 1º ano, em 2022. 

A pesquisa foi realizada nas cinco Regiões do país, nas 27 Unidades Federativas, nas capitais e em 105 municípios, sendo quatro em cada estado e um no Distrito Federal, tendo como amostra 388 escolas e gestores(as), 765 docentes e 1.181 estudantes.

Para Unesco, é importante considerar que o impasse sobre o modelo do ensino médio no Brasil, além de dificultar o planejamento das escolas, pode, nos próximos anos, atrasar a produção e a distribuição de livros didáticos para os estudantes desse segmento, complicando ainda mais o cenário de recuperação das aprendizagens, já defasadas com a pandemia da COVID-19.

“O Brasil tem uma história de reformas que não deram certo. A falta de condições políticas e a diversidade de contextos estão entre os fatores que contribuíram para os fracassos. É muito difícil que uma reforma pensada em Brasília dê conta de tantos desafios e peculiaridades regionais”, afirma o relatório.

O relatório afirma que é oportuno considerar a advertência feita por uns poucos especialistas sobre como se processam as mudanças na educação. O primeiro deles é A. M. Huberman, no livro “Como se realizam as mudanças em educação”, editado pela UNESCO em 1973. Huberman chama atenção para a importância de um debate prévio com os professores. A resistência à mudança é proporcional ao volume da mudança necessária. Com isso, é preciso dedicar toda atenção aos fatores que favorecem ou impedem mudanças duráveis.

O segundo, mais recente, é Michael Fullan, no livro “O significado da mudança educacional”. Ele afirma que, se as pessoas não encontrarem significado na reforma, esta não terá impacto. Ele ressalta a importância de as pessoas se enxergarem como atores. Vem daí a relevância da construção coletiva da legitimidade da reforma.

Confira o relatório completo clicando aqui

Foto: Unesco

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