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Docentes refugiados: oportunidade para troca de experiências

O Brasil possui mais de 730 mil pessoas em necessidade de proteção internacional, de acordo com o Painel Brasil no Fórum Global sobre Refugiados, publicado pela Agência de Refugiados das Nações Unidas (Acnur). Deste total, 140 mil são refugiadas e outras 68 mil estão à espera do reconhecimento desta condição.
Muitos destes refugiados trazem na bagagem, além da história de vida, conhecimentos acadêmicos. É o caso dos professores Justin Amuri Mweze e Rafael Alberto González González. Aprovados por meio do projeto “Acolhimento como soft power: o universo dos refugiados entre a educação, a linguagem e o patrimônio”, apoiado pela Capes, eles deram início às atividades docentes na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), no dia 25 de março.
Justin Amuri Mweze é natural da República Democrática do Congo, na África, mas estava refugiado em Moçambique. Já Rafael Alberto González González vem da Venezuela. Ambos estão atuando nos Programas de Pós-Graduação em História (PPGH), Educação (PPGE) e Linguística (PPG Linguística) da UFJF.
González
Nascido em Maracay, na região centro-norte da Venezuela, Rafael Alberto González é professor universitário e lecionou na Universidad de Carabobo (UC) e na Universidad Pedagógica Experimental Libertador (UPEL), nos departamentos de Ciências Econômicas e Sociais. A saída de seu país de origem foi motivada pelas crises políticas, sociais e institucionais atravessadas pela Venezuela, com impacto direto nas condições de vida da população.
“Saí do país nesse contexto generalizado de protestos, mobilizações, conflitos e crises econômicas. São mais de 7 milhões de venezuelanos espalhados pelos países próximos e eu estou neste fluxo, reflexo dessa situação que o país vem vivendo.”
Em 2019, ele chegou ao Brasil para lecionar na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Após um período na capital baiana, passou a integrar o Programa de Desenvolvimento da Pós-Graduação (PDPG) Emergencial de Solidariedade Acadêmica da UFJF.
“Gostei da pauta de pesquisa que estamos discutindo aqui. Tem sido uma oportunidade para sentir, viver e pesquisar a migração, os processos de mobilidade. Somando todos esses elementos, é claro que eu estou tendo uma experiência muito boa aqui dentro, que tem uma sensibilidade muito grande no que diz respeito aos migrantes e refugiados.”
Para ele, a discussão passa pela função social da universidade enquanto instituição pública formadora. “A Universidade tem o papel na construção desse sujeito que se encontra em um espaço público, que é um lugar de interlocução, encontro e fortalecimento do tecido social. Tudo isso é um eixo da vida social universitária.Quando se encontra essas pessoas, esse espaço de acolhimento, se torna um experiência única.”
Justin
Justin Amuri Mweze nasceu na província de Quivu, localizada ao leste da República Democrática do Congo, que vive grave situação de violação de direitos humanos e conflitos armados. Após duas guerras civis em 1996 e 1998, o congolês saiu do país até chegar em Moçambique.
“Ao chegar em Moçambique (cujo idioma é o português), encontrei um forte desafio linguístico, tendo em vista que parte do meu percurso universitário foi feito na República Democrática do Congo (onde o francês é a língua oficial). Eu me integrei naquela sociedade e solicitei refúgio em Moçambique onde também fiz carreira universitária como docente.”
Mweze é licenciado em História Política e Gestão Pública, mestre em Comunicação e doutor em Ciências da Educação. Ele espera contribuir com a qualidade da pós-graduação e também na dimensão do ensino, na orientação dos trabalhos acadêmicos e na divulgação de artigos científicos, com foco em estudos sobre refugiados.
“A primeira aula na UFJF foi sobre narrativas, migração e refúgio. Tivemos a oportunidade de relatar aos alunos a nossa experiência como pessoas refugiadas, com relação também a nossa linguagem. Foi uma aula muito avivada com uma grande recepção dos alunos. Fiquei muito atraído e feliz com a receptividade desses alunos.”
Projeto
O projeto “Acolhimento como soft power”, liderado pelos professores Rodrigo Christofoletti e Alexandre Cadilhe, foi classificado em primeiro lugar geral da seleção da Capes em 2022. Para Cadilhe, a presença de professores em situação de refúgio na instituição é um primeiro passo para que o tema sobre pessoas refugiadas ganhe protagonismo no campo da pesquisa.
“O principal interesse nesse movimento é que ele assuma um protagonismo para que essa pauta seja relevante para se discutir. Essas pessoas também têm a sua voz, os seus saberes e histórias profissionais. Tudo isso é um aprendizado intercultural fantástico tanto para quem está chegando na UFJF, quanto para aqueles que já estão na UFJF”, completa.

Foto: UFJF/Divulgação

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