Um grupo de estudiosos do Transtorno do Espectro Autista (TEA) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) publicou a cartilha Minha criança tem características do autismo: o que fazer? A publicação está dividida em pequenos capítulos, cujos títulos são verbos, e foi lançada no início deste mês. O trabalho é resultado da parceria entre o Programa de Atenção Interdisciplinar ao Autismo (Praia) e a ONG Pequenos Navegantes.
De acordo com a professora Ana Amélia Cardoso, uma das autoras da cartilha, entre as características do autismo está a necessidade de agir o mais rapidamente possível, daí o uso de verbos nos títulos, que indicam o sentido de urgência. “Agir cedo é essencial, não só em casos de autismo, mas de outros transtornos do neurodesenvolvimento. Quanto mais cedo essa criança começar a intervenção adequada, maiores as chances de conseguir evolução significativa no seu desenvolvimento”, argumenta. Os professores Maria Luísa Nogueira e Jardel Sander, da UFMG, e a doutoranda em Psicologia e Cognição na UFMG, Poliana Martins, também são autores da cartilha.
Estudioso da temática, o quarteto convive diariamente com os desafios vivenciados pelos autistas. Poliana é mãe de três crianças atípicas, duas delas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), Ana Amélia foi diagnosticada com TEA já na fase adulta e Maria Luísa e Jardel são pais do Chicão, que inspirou e motivou a criação do Praia.
Atenção ao desenvolvimento
Ana Amélia defende que pais, familiares e cuidadores de crianças pequenas prestem atenção no desenvolvimento de suas crianças e procurem ajuda caso percebam qualquer atraso ou alteração. A cartilha tem uma sessão especial, que explica em detalhes o desenvolvimento neuropsicomotor esperado para crianças típicas de cada faixa etária e orienta os responsáveis sobre possíveis atrasos no crescimento dos seus filhos.
O texto também reúne depoimentos dos próprios pesquisadores. Ana Amélia, por exemplo, relata que viveu uma fase de medo do estigma e de ser menosprezada socialmente ao receber seu diagnóstico de TEA. Ela acredita que a sua condição de professora e pesquisadora em uma das maiores universidades do país é uma grande oportunidade de ajudar outras pessoas autistas e suas famílias. “Contar minha história faz parte da luta por direitos, por espaço, por reconhecimento das pessoas autistas em geral”, relata.
“Crianças autistas nunca deixarão de ser autistas. A sociedade precisa deixar o capacitismo de lado e adaptar-se às diferenças. Além disso, é preciso promover espaços que sejam capazes de acolher adolescentes e adultos autistas”, informa o texto de divulgação da obra.
Segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, uma em cada 36 crianças é autista. A cartilha foi lançada em 2 de abril, Dia Mundial de Conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista.
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