Pesquisa Acadêmica

Estudo da UFMG pode abrir nova rota para o tratamento do câncer

Estudos desenvolvidos no Laboratório de Imunoparasitologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), identificaram microRNA abundante na corrente sanguínea de pacientes com câncer de mama. As análises experimentais revelaram que, quanto maior a presença da pequena molécula no sangue, pior é o prognóstico da doença.

Na tentativa de reverter o quadro, o grupo desenvolveu e testou, in vitro, com sucesso, um inibidor do microRNA. A esperança é de que, em alguns anos, esse conhecimento possa ser usado para ajudar no tratamento do câncer de mama e, possivelmente, de outros tumores.

A ideia de desvendar o microRNA e seus impactos funcionais em células imunes surgiu ainda no mestrado da bioquímica Mariana Sousa Vieira. Ela buscava verificar gaps da área de oncologia. Sob orientação do professor Helton Santiago, do Departamento de Bioquímica e Imunologia, diretor clínico do Centro de Tecnologia de Vacinas da UFMG, ela desenvolveu, durante seu doutorado, ensaios que possibilitaram avaliar a função de células imunes saudáveis em presença de vesículas plasmáticas circulantes de pacientes com câncer de mama ou doadoras saudáveis. E descobriu que a pequena molécula é responsável por inibir a resposta imunológica e ajudar o câncer a crescer.

“Vimos que, quando células imunes saudáveis ficavam em contato com essas vesículas de pacientes com câncer de mama, elas se tornavam menos eficientes em estimular uma resposta protetora, deixando de executar suas funções de forma completa”, relata. “Para justificar o achado, analisamos o que estava ‘dentro’ das vesículas e identificamos um microRNA enriquecido em pacientes com câncer, em quantidade um milhão de vezes superior à encontrada em outros indivíduos sem a doença”, emenda.

Os pesquisadores usaram cerca de 40 amostras de pacientes com câncer de mama em tratamento (cirúrgico, quimioterápico e radioterápico) e igual número de amostras de doadoras saudáveis de mesma faixa de idade média.

Reversão
Depois da identificação do microRNA, que impacta a função de células imunes, a equipe de Santiago buscou avaliar se um inibidor dessa molécula seria capaz de mudar tais efeitos. “Fizemos testes em cultura usando células humanas e, por meio do inibidor, conseguimos reverter a função das células imunes prejudicadas”, revela Mariana. “Identificamos, em nível molecular, como o microRNA funciona e descobrimos que ele ‘desarranja’ uma proteína chamada GSKIP. O inibidor do miRNA 181b retoma a função da GSKIP”.

De acordo com Mariana Vieira, ensaios em animais estão em andamento, e a equipe está conseguindo avançar no conhecimento de como se dá essa reversão in vivo. Os experimentos, que prosseguem a cargo da pesquisadora Caroline Leonel Vasconcelos, agora estão sendo realizados em camundongos. O estudo é financiado pelo CNPq, pela Capes e pela Fapemig, e seus resultados estão sendo submetidos a publicação.

Texto: Dayse Lacerda

Imagem: UFMG

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