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Minas Gerais é o estado com menor percentual de docentes concursados

Com apenas 19,2%, Minas Gerais é o estado com o menor percentual de docentes concursados na educação básica, de acordo com o Censo Escolar 2023. Número que chamou atenção dos participantes do Seminário Internacional de Educação, que começou nesta segunda-feira (25/03) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

O evento, organizado pelo Grupo de Pesquisa sobre Profissão Docente (Prodoc) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da ALMG, a requerimento das deputadas Beatriz Cerqueira (PT) e Macaé Evaristo (PT), presidenta e vice da comissão, respectivamente, termina nesta terça-feira (26/03).

Ao tratar da condição docente de professoras e professores da educação básica, o professor de Sociologia da Educação da UFMG e coordenador do Prodoc, João Valdir Alves de Souza, enfatizou que a porcentagem revelada no Censo Escolar 2023 é “assombrosa”.

“Esse índice é motivo de escândalo e denúncia, pois diz muito sobre as condições de trabalho desses profissionais”, afirmou. João Valdir ressaltou que ¼ dos profissionais da educação básica não é habilitado na disciplina que ensina.

Condições de trabalho

De acordo com a presidente do Sindicato dos professores de Universidades Federais de Belo Horizonte, Montes Claros e Ouro Branco (Apubh), Maria Rosária Barbato, a falta de investimentos na educação básica faz com que o número de profissionais em sala de aula se torne cada vez mais escasso. Isso porque muitos abandonam a universidade antes de receber o diploma ou então deixam a sala de aula com apenas cinco anos de magistério.

“O problema não está só nos baixos salários, mas também na sobrecarga de trabalho com aumento de funções. O profissional precisa elaborar as aulas, dar as aulas, criar conteúdo para plataforma digital, corrigir provas, participar de reuniões. Há muito trabalho fora do expediente”, ressaltou.

De acordo com a presidente do Apubh, os profissionais da educação básica estão adoecidos física e mentalmente com a rotina fadigante e com o descaso e falta de investimentos do estado brasileiro. Ela cobrou políticas públicas efetivas para fazer frente ao problema.

Para o professor Emílio Fanfani, da Universidad de Buenos Aires (Argentina), que participou do seminário, o trabalho docente é um dos mais difíceis da sociedade contemporânea. Isso porque, como explicou, tudo o que acontece na sociedade impacta nessa atividade profissional. Ele defendeu uma formação permanente que englobe conhecimento, estratégias pedagógicas e aspectos culturais. 

“Na medicina, por exemplo, os problemas costumam não mudar. Assim, acumula-se mais conhecimento, técnicas de diagnóstico e de intervenção sobre determinada questão. Na docência, tudo muda constantemente. Agora temos por exemplo o desafio da tecnologia, do uso do celular. Dessa forma, nunca estamos completamente qualificados para resolver os desafios”, comparou.

O Professor da Universidad de Buenos Aires pontuou outros aspectos. Um deles acerca do grande número de profissionais docentes. Na Argentina, como exemplificou, há uma proporção de dez professores para cada médico.

Além disso, há a questão da extensão dos territórios. Tudo isso, como explicou, torna a tarefa da formação contínua ainda mais complexa.

UFMG e ALMG

A deputada Macaé Evaristo e a diretora da Faculdade de Educação da UFMG, Andrea Moreno, ressaltaram a parceria entre a ALMG e a UFMG para tratar da temática da condição do trabalho docente.

Segundo Andrea, de nada adianta ter uma pesquisa acadêmica que não chegue ao mundo real e, da mesma forma, não adianta ter ações políticas sem considerar a ciência. “Quando a política e a ciência se encontram é promissor”, completou.

A deputada Beatriz Cerqueira (PT) também enfatizou a importância de se pensar a condição do trabalho docente, que, como disse, é invisibilizada em Minas. Ela ainda acrescentou o trabalho da comissão de cobrar a nomeação de profissionais efetivos para a educação básica.

Em sua opinião, o governo estadual não tem implementado nenhuma política para melhorar o índice de concursados na educação básica, e há uma inércia do Ministério Público e do Tribunal de Contas em relação à questão. “Desse jeito vai ter um grande apagão na educação”, afirmou.

Foto: Guilherme Bergamini / ALMG

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