O ano letivo de 2024 começa com restrições e até proibições ao uso do celular nas escolas, em algumas cidades. No Rio de Janeiro, foi publicado na sexta-feira, 2 de fevereiro, decreto que proíbe o uso pelos alunos de celulares e outros dispositivos tecnológicos nas escolas.
A proibição na rede pública municipal passa a vigorar dentro e fora da sala de aula. Também vale em caso de realização de trabalhos individuais ou em grupo, mesmo fora da sala de aula, e durante os intervalos, incluindo o recreio. Os celulares e demais dispositivos eletrônicos deverão ser guardados na mochila ou bolsa do próprio aluno, desligado ou ligado em modo silencioso.
Em São Paulo, a Secretaria da Educação do estado anunciou que, a partir dessa segunda-feira, 5 de fevereiro, o acesso a aplicativos e plataformas de streaming sem fins educativos serão bloqueados nas escolas estaduais. A medida vale para estudantes e funcionários.
De acordo com o comunicado, a medida tem como objetivo otimizar o uso de infraestrutura tecnológica para o desenvolvimento pedagógico dos estudantes. Serão bloqueados os aplicativos Tik Tok, Kwai, Facebook, Instagram, Globoplay, Roblo x, Neteflix, Prime vídeo, X, Twitc, HBO Max, Disney+ e Steam. A suspensão ocorre na rede Wi-Fi e na cabeada.
Para o secretário de educação do Rio de Janeiro, Renan Ferreirinha, a conexão do aluno deve ser com a escola e não com o celular. “O uso excessivo de aparelhos eletrônicos atrapalha a concentração e prejudica diretamente a aprendizagem. É como se o aluno saísse de sala toda vez que vê uma notificação. Não tem como prestar atenção e aprender de forma plena assim e nós não podemos menosprezar esse problema ou fingir que ele não existe. Além disso, escola é lugar de interagir com amigos e ficar no celular atrapalha a convivência social, deixa a criança isolada em sua própria tela. E ressalto que a gente não é contra o uso de tecnologia na educação, mas ela precisa ser usada de forma consciente e responsável. Do contrário, em vez de uma aliada, ela pode se tornar uma vilã do processo educacional”, afirma Renan.
Motivo
De acordo com Renan, a decisão de proibir os celulares nas escolas foi tomada com base em diversos estudos. O mais recente é o da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), responsável pelo Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (PISA), a maior avaliação mundial de estudantes. Estes estudos indicam que o uso inadequado ou excessivo da tecnologia tem impacto negativo para os alunos no ambiente escolar. A medida visa alinhar a cidade do Rio de Janeiro com países que já decidiram estabelecer proibições como França, Holanda, Inglaterra, Portugal e estados da Austrália e dos Estados Unidos. Além disso, especialistas em saúde dizem que o uso dos aparelhos por longos períodos pode causar ansiedade, instabilidade emocional e até diagnósticos de depressão.
Para o pediatra Daniel Becker, o celular atrapalha muito o aprendizado em sala de aula, tira a capacidade de atenção do aluno. “Ele favorece a distração, a cola, a dispersão dos alunos na turma. Prejudica o aprendizado profundamente e prejudica as relações em sala de aula e no recreio. O recreio é o espaço público essencial da criança, onde ela se relaciona, brinca, se movimenta, aprende habilidades fundamentais, como colaboração, empatia, negociação, viver de acordo com regras, afeto. Os relacionamentos são fundamentais para o seu desenvolvimento e aprendizado e vem sendo perturbado pelo celular. As crianças ficam isoladas, cada uma no seu celular e isso é profundamente nocivo para todos. Então, em respeito tanto ao aprendizado formal quanto ao momento fundamental dos intervalos, o “celular zero” é essencial como política escolar e está sendo adotado em vários países do mundo, vários estados americanos também e escolas privadas no Brasil”, pondera Becker.
A juíza Vanessa Cavalieri, da Vara da Infância e da Juventude da capital, acredita que a restrição de celulares nas escolas é urgente. “As nossas crianças e adolescentes estão adoecidos, estão morrendo por causa de problemas gerados pelo uso dos celulares nas escolas. Há estatísticas que demonstram uma piora acentuada na saúde mental de crianças e adolescentes, como depressão, crise de ansiedade, transtornos alimentares, automutilação. Os estudos mostram que há uma relação direta entre o uso de celulares nas escolas e o aumento desses transtornos da saúde mental por causa de perderem a convivência, esse espaço de relacionamento, de afeto e de experiências humanas dentro da escola”, comenta.
Tendência
A proibição ao uso do celular em sala de aula é uma tendência que está sendo tomada por outras cidades brasileiras. Alguns municípios têm realizado audiências públicas para discutir o tema e outros têm feito consultas públicas, como foi o caso do Rio de Janeiro.
Foto: Divulgação – PMRJ