Estudo desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-graduação em Saúde Pública da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) identificou associação entre a satisfação com a vida e a saúde cardiovascular ideal. A pesquisa analisou dados de quase 13 mil participantes da segunda bateria de exames presenciais do Elsa-Brasil, o Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto, realizada de 2012 a 2014.
A pesquisa, que integra o doutorado da pesquisadora Aline Eliane dos Santos, reforça a evidência científica de que a satisfação com a vida está associada a um menor risco de adoecer. “Porém, poucos estudos examinaram se a satisfação com a vida poderia promover saúde, especialmente a cardiovascular”, afirma. Segundo Aline Santos, pessoas mais satisfeitas podem, por exemplo, adotar comportamentos mais saudáveis, como a prática de atividades físicas, o que resultaria em melhor saúde cardiovascular.
A pesquisadora também ressalta que esse é o primeiro estudo que aborda a relação entre a satisfação com a vida e saúde cardiovascular e mortalidade utilizando dados de uma população brasileira. “É importante estudar a satisfação com a vida em diferentes populações, pois ela é influenciada pelo contexto social, econômico e cultural em que as pessoas vivem. Esses resultados são particularmente importantes para o Brasil, já que as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no país”, argumenta.
A saúde cardiovascular, definida pela ausência de doenças cardiovasculares e de seus fatores de risco, foi avaliada pelo Escore de Saúde Cardiovascular Ideal, proposto pela American Heart Association. Ele é composto de dois subescores: o de fatores comportamentais e o de fatores biológicos. O subescore de fatores biológicos considera as medidas de glicemia de jejum, pressão sanguínea, índice de massa corporal e colesterol total, enquanto o subescore de fatores comportamentais avalia aspectos como prática de atividade física, alimentação saudável e ausência de tabagismo. Ao analisar separadamente os dois subescores, maiores níveis de satisfação com a vida foram associados somente ao subescore de comportamentos.
O estudo também utilizou a Escala de Satisfação com a Vida (SWLS), de Diener, Emmons, Larsen, & Griffin (1985), que apresenta cinco afirmativas para as quais as respostas variam de 1 (“discordo totalmente”) a 7 (“concordo totalmente”). Assim, o escore total de satisfação com a vida vai de 5 a 35 pontos; quanto maior o escore, maior a satisfação.
“É possível que um dos caminhos que conectam a maior satisfação com a vida à melhor saúde cardiovascular seja a redução dos efeitos deletérios do estresse, como a menor ativação das respostas inflamatórias, que são um mecanismo comum a várias doenças crônicas. A satisfação com a vida também estimula os indivíduos a adotar comportamentos saudáveis, como a prática de atividade física, e outros cuidados com a saúde”, explica a nutricionista e pesquisadora.
Risco de morte
O estudo também mostrou que níveis baixos de satisfação com a vida estão associados com maior mortalidade por todas as causas em adultos de até 65 anos. Segundo a pesquisadora, esses resultados corroboram o entendimento da satisfação com a vida como indicador relevante de saúde e desenvolvimento econômico e social.
“Indicadores tradicionais de desenvolvimento, como o PIB per capita, têm sido insuficientes para medir o bem-estar da população. Como a satisfação com a vida é fortemente influenciada pelos determinantes sociais, como renda, emprego, escolaridade, altos níveis de satisfação seriam reflexo de políticas de bem-estar social bem estabelecidas. Esperamos que os resultados atuais e pesquisas futuras colaborem para fortalecer a inserção da avaliação da satisfação com a vida em inquéritos nacionais de base populacional, como as pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)”, propõe a pesquisadora.
Foto: Cecília Bastos / USP imagens