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Depressão atinge mais de 20% dos professores; aponta estudo da Unimontes

A depressão é uma das doenças que mais afeta os professores no Brasil. Pesquisa realizada pelos Programas de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (PPGCS) e Cuidado Primário em Saúde (PPGCPS) da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) mostra que, dos profissionais avaliados, 23,2% apresentaram sintomas depressivos. Se comparado com a população adulta brasileira, este percentual é mais que o dobro. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde, 9,7% dos brasileiros sofrem de depressão.

Outras doenças

A pesquisa mostrou ainda que 89,5% dos profissionais apresentaram percentual de gordura corporal elevada e 53,3% tiveram excesso de peso/obesidade. Entre os fatores de risco, observou-se entre os professores alta prevalência de substituição de refeições principais por lanches (91,7%).
Cerca de 40,3% dos professores apresentaram estresse, 24,3% com nível de colesterol elevado (dislipidemia) e outros 17,6% apresentaram hipertensão arterial.
O estudo revelou também uma maior prevalência de fatores de risco para professores do sexo masculino, quando comparados aos do sexo feminino, em especial os relacionados aos hábitos -fumo, consumo abusivo de álcool, consumo de refrigerantes/suco artificial, carnes com excesso de gordura, tempo maior gasto assistindo à TV.
Por outro lado, as mulheres apresentaram pior autopercepção de saúde e maior comprometimento de sintomas relacionados à saúde mental.

Faixa Etária


Em relação à idade, observou-se que os professores mais velhos, ao serem comparados aos mais jovens, apresentaram menor prevalência de Síndrome de Burnout (exaustão pelo trabalho) e maior prevalência de comportamentos de proteção para DCNTs (não fumante, ex-fumante, menor consumo de doces, menor consumo de sal, maior consumo de água, mais ativos fisicamente e maior realização de exames preventivos), embora tenham apresentado maiores prevalências de comprometimentos da saúde física (hipertensão, dislipidemia, excesso de peso e obesidade, assim como de aumento do percentual de gordura corporal, entre outros).

Insatisfação com o trabalho

A insatisfação com o trabalho atinge cerca de 60% dos professores participantes da pesquisa. A professora e pesquisadora Desirée Sant’Ana Haikal, coordenadora do grupo de estudo, explica que entre os professores insatisfeitos com o trabalho, houve maior proporção de comportamentos de risco quanto ao abuso da internet e sintomas relacionados à saúde mental, assim como menores prevalências de realização de exames preventivos e de indivíduos ativos fisicamente, quando comparados aos professores satisfeitos com o trabalho.
De acordo com a professora, o estudo contou com a participação de 760 professores da educação básica de 35 escolas da rede estadual em Montes Claros. Desirée ressalta que a equipe de campo visitou as escolas para entrevistar e realizar uma avaliação física dos professores. “Foram levantadas informações sobre o perfil sociodemográfico, perfil ocupacional, satisfação com o trabalho, condições laborais, hábitos/estilo de vida, nível de atividade física, utilização dos serviços de saúde, uso de medicamentos, licenças médicas por estresse/depressão. E ainda: acidentes de trabalho, qualidade de vida, autopercepção da Saúde, saúde da Mulher e do Homem, Condições físicas e psicossociais de saúde, Problemas vocais auto relatados, dentre outros”, explica.
A avaliação física, segundo a professora, foi constituída por aferição de peso, altura, bioimpedância (avaliação da composição corporal), circunferência da cintura, circunferência do quadril, pressão arterial, força manual e avaliação vocal. “Todos esses procedimentos foram realizados de acordo com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) com cumprimento dos procedimentos padronizados e obedecendo as normas de biossegurança”, assegura.

Projeto

A pesquisa fez parte do “Projeto ProfSMoc”. A professalta que foi o primeiro de uma série de estudos envolvendo professores da educação básica estadual que vem sendo desenvolvidos pelo grupo.
A equipe do projeto ProfSMoc contou com os seguintes professores e pesquisadores:  Desiree Sant’ana Haikal, Rosângela Ramos Veloso Silva, Marise Fagundes Silveira, Luiza Rossi, Alfredo Maurício Batista de Paula e Maria Fernanda Santos Brito Figueiredo, além das acadêmicas de pós-graduação Tatiana Almeida de Magalhães e Marta Raquel Mendes Vieira e de vários alunos de Iniciação Científica.

Resultados para a Universidade

A professora Desirée Haikal destaca que o grupo de pesquisa do projeto fortaleceu e incentivou outras coletadas de dados envolvendo professores, inclusive envolvendo agora professores de todo o estado de Minas e não mais somente restrito a Montes Claros. “Temos nos consolidado como grupo de pesquisa envolvendo as condições de saúde e trabalho de professores da educação básica”.
“Além disso, já foram publicados ou aceitos para publicação, cerca de 40 artigos científicos em periódicos nacionais e internacionais, entre os anos de 2017 e 2023 com temática envolvendo a saúde de professores da educação básica estadual. Os resultados são de grande importância, não só por levarem o nome da Unimontes, mas principalmente pela busca da valorização do trabalho docente, possibilitando um olhar aprofundado para a saúde de professoras e professores, bem como possíveis intervenções para melhorar a qualidade de vida desses trabalhadores”, afirma a pesquisadora.


Política de saúde

A obtenção de tais dados mostra-se fundamental para a elaboração de políticas públicas que valorizem o bem-estar docente. É o caso recente da Política de Bem-Estar, Saúde e Qualidade de Vida no Trabalho e Valorização dos Profissionais da Educação, instituída pela Lei Federal, Nº 14.681, de 18 de setembro de 2023).
A política pública, definida pela referida lei, tem como objetivos:  o desenvolvimento de ações direcionadas para a atenção à saúde integral e a prevenção ao adoecimento dos trabalhadores, bem como o estímulo a práticas que promovam o bem-estar no trabalho de maneira humanizada e duradoura. “A repercussão maior do artigo especificamente mencionado (“Fatores de risco e proteção para doenças crônicas não transmissíveis entre professores da educação básica”) se deu porque ele foi citado pela imprensa na divulgação dessa lei nacional, reforçando a importância de se conhecer a real realidade e os problemas que de fato afligem os professores da educação básica pública, para se planejar ações acertadas, direcionadas às reais necessidades verificadas”, conclui.

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