Para tornar blocos de concreto mais resistentes de forma ecológica, uma pesquisa da Universidade Federal de Lavras (UFLA) utilizou fibras de coco e resíduos de mineração da rocha quartzito, popularmente conhecida como “Pedra São Tomé”. Os resultados indicam que a substituição parcial de areia por “pó” de quartzito e a adição de fibras de coco podem melhorar algumas propriedades dos blocos de concreto, como a resistência à compressão, o que pode ser benéfico para uma produção mais eficiente e sustentável.
A principal responsável pelo estudo e doutora egressa do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Biomateriais, Isabelle Cristine de Carvalho Terra, explica que os resíduos de mineração utilizados, além de contribuírem para a reciclagem de materiais descartados, melhoram, assim como as fibras de coco, a resistência dos blocos de concreto. “Esse processo combina a gestão responsável de resíduos com a produção de materiais de construção mais sustentáveis, promovendo ecoeficiência na construção civil ao diminuir a dependência de recursos e a quantidade de resíduos sólidos”, afirma.
Segundo Isabelle Cristine, o objetivo foi auxiliar na redução do impacto ambiental. “Também alcançamos outros benefícios. Os blocos produzidos têm melhor desempenho em termos de isolamento térmico, ajudando a reduzir a transferência de calor. Portanto, edifícios construídos com esses blocos podem oferecer melhor conforto térmico, economizando a energia que seria gasta em aquecimento ou resfriamento. Aliás, isso ocorre devido à substituição de parte da areia por quartzito, que reduziu a condutividade térmica dos blocos, tornando-os mais isolantes termicamente. A adição de fibras de coco também contribuiu”, ressalta.
E os impactos da pesquisa podem ir além. De acordo com Isabelle Cristine, é possível alcançar também benefícios econômicos e sociais significativos para comunidades que dependem da extração de quartzito. “Ao utilizar resíduos dessa rocha na produção de blocos de concreto, podemos promover a criação de empregos locais, a redução de desperdício de recursos naturais e a sustentabilidade ambiental. Isso oferece a perspectiva de impulsionar a economia e a qualidade de vida nas regiões de extração de quartzito”, completa.
Resultados
A substituição da areia por pó de quartzito também reduziu significativamente a densidade dos blocos, tornando-os mais leves. “Enquanto a proporção de quartzito aumentava, a densidade dos blocos diminuía, o que pode estar relacionado com o aumento dos espaços vazios nos blocos, que resultam em uma maior porosidade”, comenta.
Essa substituição causou também ganhos na resistência à compressão dos blocos. Segundo Isabelle Cristine, essa resistência variou de acordo com a proporção de quartzo. “Os blocos produzidos com 25% de quartzo apresentaram um aumento na resistência à compressão. No entanto, à medida que a quantidade de quartzo aumentou mais que isso, a resistência à compressão diminuiu. A adição de fibras de coco não afetou significativamente a resistência à compressão”, destaca.
Isabelle explica que, as fibras de coco utilizadas têm uma alta quantidade de lignina (31%), o que as torna duráveis e resistentes quando expostas ao cimento. Elas também contêm uma quantidade significativa de celulose (37%) e hemicelulose (28%), componentes que as tornam adequadas como reforço na produção de blocos, já que os tornam mais resistentes quando incorporadas com concreto ou cimento.
Passo a passo
Na produção, foram utilizados diferentes materiais. As fibras de coco foram compradas de uma empresa do ramo em Cascavel, no Paraná, e, em seguida, moídas. Os resíduos de quartzito branco foram adquiridos em pó de uma empresa de Luminárias, Minas Gerais. A matriz de cimento utilizada consistia em cimento Portland de alta resistência inicial (CP V – ARI), areia e brita. Todos os materiais foram analisados conforme metodologias, normas e técnicas pré-existentes.
Os blocos foram produzidos com diferentes formulações, incluindo a substituição de areia por quartzito branco em várias proporções e a adição de fibras de coco. O estudo avaliou, então, o desempenho dos blocos de concreto com a incorporação de fibras de coco e quartzito branco em relação a propriedades físicas de densidade, condutividade térmica, absorção de água, porosidade aparente e propriedades mecânicas de resistência à compressão em comparação com os padrões estabelecidos pelas normas técnicas brasileiras.
Foto: Divulgação/Ufla