Carga elevada de trabalho, altas demandas, desequilíbrio entre esforço e recompensa, intimidação e segurança no trabalho são alguns fatores que tornam o emprego de professor um dos mais estressantes, sendo uma das categorias que mais adoece no país.
Pesquisa realizada pela doutoranda, Nayara Ribeiro Gomes, para o Programa de Pós-Graduação em Ciências Fonoaudiológicas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), buscou reconhecer as causas e pioras na saúde da população de professores do ensino fundamental (6º ao 9º ano). Foram ouvidos 5,6 mil docentes brasileiros e portugueses.
Entre as principais causas de adoecimento de professores, foram encontrados transtornos mentais comuns (TMC) – ansiedade, depressão e sofrimento emocional (53,3%), dor musculoesquelética (DME) – dor na região lombar, ombros, braços, pernas (26,7%) e Síndrome de Burnout (6,6%).
Segundo a doutoranda, a pesquisa identificou por meio de um estudo de revisão sistemática da literatura que transtornos mentais comuns, dor musculoesquelética e a Síndrome de Burnout estão associados significativamente ao baixo apoio social, carga elevada de trabalho, altas demandas, baixo controle no trabalho, clima organizacional, ambiguidade de papéis, condições estressantes, desequilíbrio entre esforço e recompensa, baixo apoio da família, demandas relacionais (professor-pais-alunos), intimidação e a segurança no trabalho.

Para Nayara uma forma de reverter, ou ao menos minimizar os impactos do adoecimento de professores, seria lidar com políticas públicas pensando em cuidados voltados para promoção e prevenção da saúde. Os quadros podem ser melhorados com apoio social dentro das escolas, como em questões de demandas de trabalho, carga horária e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
“O que sugerimos, dentro dos resultados da pesquisa, seriam ações de políticas públicas e educacionais, porque precisamos pensar também nas políticas da escola voltadas para o adoecimento do professor, para que, dessa forma, possamos diminuir essas incidências de doenças nesta população”, completa.
Insatisfação maior entre as mulheres
Um ponto muito conhecido na profissão de professor, principalmente no Brasil, é a insatisfação com o trabalho. Durante a pesquisa existiu associações entre o impacto negativo na saúde física e mental e ser mulher, com idade entre 40-59 anos, tempo total de carreira maior ou igual 11 anos, não ter tempo para a vida pessoal e insatisfação geral com o trabalho, com o salário e com as recompensas recebidas.
Foram identificados também aspectos como a desvalorização da profissão, estresse e não receber apoio social dos colegas. Para Nayara, isso revela que esses fatores estão associados ao impacto negativo do trabalho na saúde física e mental de professores no Brasil e Portugal. “É até um ponto de discussão da pesquisa, porque até menciona que as mulheres tendem a equilibrar múltiplos papéis na vida, além de trabalhar fora, ainda tem o trabalho de casa, o que contribui muito para o cansaço físico e mental”, aponta a pesquisadora.
Apesar das mulheres representarem maiores dados de insatisfação e adoecimento com o trabalho docente, não se pode afirmar que exista uma diferença significativa entre o gênero, levando em consideração que a maior parte dos professores analisados na pesquisa eram mulheres.
De acordo com Nayara, ainda que as mulheres sejam um pouco mais cuidadosas com a saúde do que os homens, existem outras coisas em questão. “A falta de tempo para o autocuidado pode agravar as questões de saúde. Às vezes é uma balança que não tem muito equilíbrio, porque a conta acaba não fechando”, esclarece.
Diferença Brasil e Portugal
Participaram do estudo 2.217 professores brasileiros dos quais 606 (27,3%) afirmaram que o trabalho impacta negativamente a saúde física, e 598 (27,0%) que impacta a saúde mental. Já em Portugal, esses números foram maiores, dos 3.397 professores identificaram-se 2.019 docentes (59,4%) que afirmam o impacto negativo na saúde física e 2.205 (64,9%) na saúde mental.
Por outro lado, a maioria referiu estar insatisfeito com o salário que recebe pelo trabalho e não acreditam que a profissão de professor é valorizada pela sociedade.
“A realidade política é um pouco diferente da nossa. Então, eu acredito que seja por isso. Também temos que pensar na questão populacional. Portugal é um país bem menor que o nosso, mas eu acredito que possa ser principalmente por conta das questões políticas do trabalho, que possam ter levado a essas diferenças. Por exemplo, os portugueses são os que mais citam se sentirem estressados no trabalho, mas eles não têm insatisfação com o salário, como é o caso dos professores brasileiros”, pontua Nayara.
98,8% dos professores portugueses referiram de se sentirem estressados no trabalho, enquanto no Brasil, os números foram menores, e apenas 37,5% afirmaram lidar com essa questão, apesar de existir a insatisfação com o salário entre os docentes brasileiros.
Uma análise realizada para a pesquisa identificou grupos de professores brasileiros e portugueses suscetíveis ao impacto negativo do trabalho na saúde mental e física e quais as principais características destes grupos.
No Brasil identificaram-se três grupos:
- Professores com Idade até 39 anos, tempo de trabalho na escola menor ou igual a 5 anos, tempo total de carreira menor ou igual 10 anos e insatisfeitos com as recompensas recebidas no trabalho (independente do salário);
- Professores com Idade entre 40-59 anos, carga horária de trabalho em tempo integral, tempo de trabalho na escola maior ou igual 11 anos, tempo total de carreira maior ou igual 21 anos e insatisfeitos com as recompensas recebidas no trabalho (independente do salário);
- Professores que discordam: participar ativamente das decisões da escola, compartilhar responsabilidades nas questões escolares, compartilhar ideias sobre o ensino, não recebem incentivo da escola a conduzir novas iniciativas, e insatisfeitos com as recompensas recebidas no trabalho (independente do salário).
Já em Portugal um grupo foi identificado: Formado por professores que discordam: participar ativamente das decisões da escola, compartilhar responsabilidades nas questões escolares, compartilhar ideias sobre o ensino, não recebem incentivo da escola a conduzir novas iniciativas.
O estudo foi orientada pela professora Adriane Mesquita e pela pesquisadora Bárbara Antunes.
Foto: EBC
Arte: UFMG