Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG) em colaboração com a Universidade Federal de Viçosa (UFV) pode representar um avanço significativo no tratamento de um subtipo letal de câncer de fígado, o carcinoma hepatocelular. O estudo ganhou destaque na capa do periódico internacional New Journal of Chemistry, publicado em 7 de setembro deste ano.
A pesquisa, que conta com acadêmicos também da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) e da Universidade Estadual de Maringá (UEL), investiga uma substância natural encontrada em algumas espécies de plantas: a Gutiferona-A. A professora Marisa Ionta, docente do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da UNIFAL-MG, coordenadora do Laboratório de Avaliação de Protótipos Antitumorais (LAPAN) e líder da pesquisa na Instituição, explica que a Gutiferona-A se mostrou altamente citotóxica para certos tipos de células tumorais malignas, porém, sua aplicação clínica enfrentava um grande desafio, já que também afetava células normais.
“O grupo do professor Marcelo Henrique dos Santos da UFV realizou modificações estruturais na Gutiferona-A, que permitiram chegar a um protótipo que apresenta boa seletividade, ou seja, a molécula inibe a proliferação e induz morte em células tumorais, exercendo mínimos efeitos em células normais”, destaca.
De acordo com a professora, essa característica é importante para a seleção de candidatos a fármacos. “Eles isolaram a Gutiferona-A, a partir das sementes da Garcinia gardneriana, e utilizaram essa substância como arcabouço estrutural para obtenção de uma série de derivados contendo um anel triazólico-benzil substituído por diferentes grupos químicos”, detalha.
Todas as substâncias foram testadas em células derivadas de carcinoma hepatocelular, sendo que uma delas foi extremamente ativa, cujos mecanismos de ação foram explorados. Os ensaios biológicos foram realizados no LAPAN e a execução experimental envolveu estudantes de pós-graduação do Programa de Pós-Graduação em Biociências Aplicadas à Saúde da UNIFAL-MG e do Programa de Pós-Graduação em Agroquímica da UFV.
“Os estudos realizados no Laboratório de Avaliação de Protótipos Antitumorais mostraram que a substância em questão inibe a proliferação de células derivadas de carcinoma hepatocelular, um tipo de câncer de fígado altamente letal, devido a sua capacidade de modular uma das principais vias oncogênicas deste tipo de tumor”, descreve.
Para a professora Marisa Ionta, os resultados da pesquisa contribuem para a geração de conhecimento. Conforme sua análise, devido à complexidade do câncer, é muito relevante encontrar substâncias que possam ser úteis no processo de desenvolvimento de fármacos antineoplásicos.
“O câncer é uma doença complexa e heterogênea que surge devido a alterações genéticas e epigenéticas. A baixa eficácia dos tratamentos, comumente observada para alguns tipos de câncer, em geral, está associada à complexidade da doença e ao desenvolvimento de resistência das células tumorais aos fármacos disponíveis. Dessa forma, é extremamente relevante encontrar substâncias que apresentam um padrão estrutural inédito e que possam ser úteis no processo de desenvolvimento de fármacos antineoplásicos”, argumenta.
A repercussão do estudo na revista científica inglesa New Journal of Chemistry confirma a contribuição da pesquisa para a área. “A repercussão internacional do nosso trabalho demonstra a qualidade da pesquisa que vem sendo desenvolvida no âmbito das universidades públicas brasileiras”, comenta. “É com grande satisfação que entregamos e tornamos público o conhecimento adquirido na Universidade, o qual pode contribuir para melhorar a qualidade de vida e a saúde da população mundial”, conclui.
Os resultados obtidos na pesquisa, como a identificação do protótipo com promissora atividade antitumoral frente ao carcinoma hepatocelular, de acordo com a pesquisadora, suportam a continuidade do estudo para validar a eficácia terapêutica dessa substância em estudos in vivo, uma das etapas subsequentes do processo de desenvolvimento de fármacos.
Foto: Unifal