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Em livro, professora da UFMG investiga origens da corrupção brasileira

O debate sobre a corrupção brasileira ganhou projeção com o advento da Nova República (1985), período que tem como um de seus marcos fundacionais a eleição de Fernando Collor de Mello para a presidência do país.  A história da corrupção brasileira, contudo, é muito mais antiga – remonta, no mínimo, ao período colonial. É a esse tema que a professora Adriana Romeiro, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), dedica-se em Ladrões da república: corrupção, moral e cobiça no Brasil, séculos XVI a XVIII, livro que está saindo do prelo pela Editora Fino Traço. 

Na obra, a historiadora “mergulha nas profundezas da cultura política ibérica da época moderna, investigando como então se concebiam as relações entre poder, dinheiro e corrupção”, conforme faz saber a sinopse do volume, disponível em pré-venda no site da editora

“Rachadinhas” coloniais

“No período colonial, tínhamos práticas de corrupção muito parecidas com as práticas atuais”, conta Adriana. “Por exemplo, a famosa ‘rachadinha’, que já existia nos primeiros anos do século 17, por volta de 1603, 1604. Há, por exemplo, documentação sobre Diogo Botelho, governador-geral do Brasil na época, contratar funcionários e ficar com metade dos seus salários”, exemplifica. A historiadora não escapa de ver semelhanças entre o que ocorria naquela época e as tantas denúncias de corrupção que recaem sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro e sua família. “O que a gente vê hoje de Bolsonaro não é muito diferente do que a gente via na época colonial. É toda uma cultura que foi gestada ao longo dos séculos, em que o governo e o Estado são explorados pelos indivíduos no poder”, afirma, lembrando também o mais recente caso de corrupção que envolve ainda mais diretamente o ex-presidente – o caso das joias desviadas, que tem dominado as manchetes neste mês.

De corrupções e corrupções

A ideia de corrupção está intimamente ligada ao ato de corromper. Quando se fala de corrupção, alude-se a um comportamento desonesto, fraudulento, imoral ou ilegal que implica a troca de dinheiro, valores ou serviços em proveito próprio (suborno, roubo, toma-lá-dá-cá etc.). Trata-se, ao cabo, da degradação moral da própria relação com o coletivo social: usa-se meios ilegais e/ou imorais para apropriar-se de algo do coletivo em benefício próprio; para o ganho financeiro, em suma. Para Adriana Romeiro, essas e outras práticas atuais de corrupção remontam ao período colonial, mas as formas como as pessoas daquela época pensavam a corrupção e o poder eram um pouco diferentes das de hoje, pois se davam em um contexto diferente do atual. Se hoje a ideia de corrupção está ligada a uma noção estrita de transgressão da lei, naquela época ela estava mais ligada a uma transgressão ética, moral.

“Em razão disso, muitos historiadores falam que não se pode falar propriamente em ‘corrupção’ para aquela época, porque nela não haveria ainda a noção de coisa pública, de esfera pública etc. Contudo, já havia um conjunto de normas morais; não era uma lei, mas era uma norma que já estabelecia que era imoral usar o poder como forma de enriquecimento. O que faço no livro, portanto, é mergulhar nesse contexto cultural, que é diferente do nosso, para mostrar que mesmo nele é possível falar de corrupção, na medida em que já havia princípios morais que condenavam a relação entre dinheiro e poder”, explica. “A verdade é que, naquela época, quando um governante saía de Portugal e vinha para cá, já vinha com a intenção de ficar rico via espoliação predatória. No século 16, havia toda uma cultura de que o Brasil era um lugar de enriquecer. A corrupção de hoje é, sem dúvida, herdeira dessa prática antiga.”

Romero também é autora do livro Corrupção e poder no Brasil – uma história, séculos XVI a XVIII, pela editora Autêntica. Na obra atual, a historiadora retoma, amplia e aprofunda as análises, feitas naquela obra, “sobre o significado e o lugar da corrupção no imaginário político da Época Moderna”, como ela mesma anota na introdução do novo livro.

(Texto de Ewerton Martins Ribeiro)

Foto: Reprodução

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