Flor comestível é objeto de estudo na UFLA, que utiliza nanotecnologia para superar dificuldades de germinação
A Clitoria ternatea, ou Feijão-borboleta, como é popularmente chamada, é uma planta leguminosa normalmente usada na decoração de jardins, como trepadeira apoiada em suportes e cercas. Suas flores também são comestíveis e usadas na culinária, principalmente para a extração do pigmento azul, para coloração de sorvetes e gelatinas. A planta também é popular pela finalidade fitoterápica: o chá é muito usado no tratamento de infecções de garganta, indigestão, entre outras aplicações da medicina popular. Com tantas utilidades, o Feijão-borboleta virou objeto de um estudo desenvolvido pela pesquisadora Michele Valquíria dos Reis e a discente Luana Teles Barroso, da Escola de Ciências Agrárias de Lavras, da Universidade Federal de Lavras (Esal/UFLA).
O estudo “Nanotubo de carbono na germinação de Clitoria ternatea L” destaca que a espécie apresenta dormência das sementes, o que dificulta uma germinação satisfatória. Como a nanotecnologia tem sido utilizada na agricultura, em especial no tratamento de sementes, para melhorar a eficiência de absorção de água – e, logo, melhorar a germinação – a pesquisa usa nanotubo de carbono para a superação da dormência desta espécie.
Os nanotubos são peças minúsculas só vistas com o uso de potentes microscópios eletrônicos. Elas medem de 1 a 3 nanômetros (nm) de diâmetro e até 1.000 nm de comprimento, medidas comparáveis a um fio de cabelo dividido cerca de 50 mil vezes. Entre outras qualidades, os nanotubos de carbono possuem excelente condutividade elétrica e uma resistência mecânica cem vezes maior que a do aço e, ao mesmo tempo, flexibilidade e elasticidade. São características que os credenciam a uma infinidade de aplicações importantes em ciência e tecnologia.
A pesquisadora explica que, ao longo do estudo, foram empregadas diferentes concentrações de nanotubo de carbono em forma de embebição, que seria o processo que envolve a absorção de água pela semente e que corresponde ao primeiro passo para sua germinação. Em seguida, foram realizados testes de germinação e acompanhamento do desenvolvimento inicial da planta.
“Foram extraídas informações sobre a porcentagem de germinação e parâmetros de crescimento, como comprimento do hipocótilo, a parte do caule da planta, e da raiz. Além disso, foram utilizados métodos de imagem para caracterização das sementes e plântulas, bem como para observar o comportamento do nanotubo dentro da semente”, explica Michele.
O estudo permitiu dados primários para esclarecimento sobre a ação do nanotubo de carbono na resolução de um problema recorrente na espécie C. ternatea, relacionado à baixa germinação de sementes. E os resultados desta pesquisa indicam que o uso de nanotubo de carbono pode ser um método eficaz para melhorar o processo germinativo e formação de plântulas saudáveis.
“Esses resultados mostram que a utilização de nanotubo de carbono pode ser encorajada em outras espécies de interesse comercial, seja no tratamento de sementes, seja como regulador de crescimento, possibilitando um avanço em pesquisas fitotécnicas, contribuindo com uma tecnologia eficaz”, enfatiza a pesquisadora.
A pesquisa, que teve a nanotecnologia como aliada por meio de estudos e processos de manipulação da matéria em escala atômica e molecular, foi feita em parceria com o Setor de Sementes e Desenvolvimento Tecnológico da UFLA. Durante o estudo, foram usados equipamentos como GroundEye e Biospeckle, sistema que aplica poderosas ferramentas de inteligência artificial para resultados mais assertivos.
A pesquisadora chama a atenção para os benefícios da nanotecnologia aplicada à agricultura, fator que tem sido fundamental no segmento para aprimorar a intervenção humana, elevando o controle sobre eventos e facilitando a tomada de decisões para obtenção de uma melhor rastreabilidade, produtividade e qualidade.
“É uma ferramenta que tem crescido neste contexto e que tem se mostrado eficaz para melhoria da produtividade de culturas. Como é uma tecnologia teoricamente recente, o impacto no dia a dia da sociedade ainda é incipiente, mas, na medida em que a pesquisa encorajar o uso de nanopartículas nos campos de produção e esta se mostrar eficiente, poderá garantir novas formas de produção, gerando produtos (alimentos) de qualidade para a sociedade”, finaliza Michele.
A pesquisa teve um carácter multidisciplinar. Contou com a colaboração do setor de sementes da Fitotecnia, com técnicos e professores como a professora Heloísa Oliveira, bem como o auxílio do professor do Departamento de Automática da UFLA Roberto Braga. A ideia é que, a partir desses resultados, a comunidade externa seja impactada por meio de cartilhas de cultivo da cultura, palestras e oficinas.